As revoluções no Norte de África apanharam o mundo de surpresa. Nem os mais atentos observadores internacionais ou mesmo os serviços de informações previram uma revolta destas dimensões que provocará transformações no mundo à escala daquelas que aconteceram com a queda do Muro de Berlim ou os atentados do 11 de Setembro.
Como sempre, em todas as épocas e em todas as latitudes, os ventos de mudança que sopram de longe (ou de mais perto), provocarão mudanças um pouco por todo o lado.
Por cá, também as mudanças surgirão. A inspiração do jasmim vai ser experimentada no próximo dia 12.
A revolta de uma parte da população, os mais jovens e mais pobres, que não se sente representada por um sistema de partidos do poder alicerçado no funcionalismo público e na protecção social que não chega a todos (e cada vez a menos) é inevitável.
A falta de representatividade dos actores políticos e o fosso entre o sistema de governo e os cidadãos é indisfarçável.
Os abusos e más práticas de quem exerce o mandato democrático ou gere a coisa pública são intoleráveis.
Talvez estejamos a viver o Ponto de Viragem, em que alguma revolta e contestação mais visível pode trazer benefícios à nossa democracia, que se mostra incapaz de se renovar por dentro.
Por cá, mais que uma revolução, precisamos de uma oxigenação.
De oxigenar a nossa democracia, de voltar a equacionar o que é a justiça social, mesmo que para isso tenhamos de pôr em causa muito do que foi construído precisamente com base numa ideia de justiça social. Uns terem um emprego seguro para a vida e reforma garantida e outros terem precariedade e a incerteza permanente do futuro, já não serve à justiça social que procurávamos.
Convenhamos que não se trata de dar aos mais jovens os direitos nos mesmos termos que a Constituição de 76 deu à geração dos pais e dos avós, por que isso já não é (ou nunca foi) materialmente possível. Nem se tratar de criar mais direitos para os mais novos. Trata-se, mais uma vez, de redistribuir de forma mais justa.
Oxigenação precisa-se.